Pular para o conteúdo principal

Para refletir

O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para consegui­lo é a luta. Enquanto o direito estiver sujeito às ameaças da injustiça – e isso perdurará enquanto o mundo for mundo –, ele não poderá prescindir da luta. A vida do direito é a luta: luta dos povos, dos governos, das classes sociais, dos indivíduos. Todos os direitos da humanidade foram conquistados pela luta; seus princípios mais importantes tiveram de e nfrentar os ataques daqueles que a ele se opunham; todo e qualquer direito, seja o direito de um povo, seja o direito do indivíduo, só se afirma por uma disposição ininterrupta para a luta. O direito não é uma simples ideia, é uma força viva. Por isso a justiça sustenta numa das mãos a balança com que pesa o direito, enquanto na o utra s egura a espada por meio da qual o defende.  A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada, a impotência do direito. Uma completa a outra, e o verdadeiro estado de direito só pode existir quando a justiça sabe brandir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança. O direito é um trabalho sem tréguas, não só do Poder Público, mas de toda a população. A vida do direito nos oferece, num simples relance de olhos, o espetáculo de um esforço e de uma luta incessante, como o despen dido na produção econômica e espiritual. Qualquer pessoa que se veja na contingência de ter de sustentar seu direito participa dessa tarefa de âmbito nacional e contribui para a realização da ideia do direito. É verdade que nem todos enfrentam o mesmo desafio. A vida de milhares de indivíduos desenvolve­se tranquilamente e sem obstáculos dentro dos limites fixados pelo direito. Se lhes disséssemos que o direito é a luta, não nos compreenderiam, pois só veem nele um estado de paz e de ordem.


Rudolph von Ihering

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ratatouille - Monólogo do crítco Anton Ego

De certa forma, o trabalho de um crítico é fácil. Nos arriscamos pouco, e temos prazer em avaliar com superioridade os que nos submetem seu trabalho e reputação. Ganhamos fama com críticas negativas, que são divertidas de escrever e ler, mas a dura realidade que nós críticos devemos encarar é que, no quadro geral, a mais simples porcaria talvez seja mais significativa do que a nossa crítica. Mas, há vezes em que um crítico arrisca, de fato, alguma coisa, como quando descobre e defende uma novidade. O mundo costuma ser hostil aos novos talentos, às novas criações. O novo precisa ser incentivado. Ontem à noite eu experimentei algo novo: um prato extraordinário de uma fonte inesperadamente singular. Dizer que tanto o prato quanto quem o fez desafiam minha percepção sobre gastronomia é extremamente superficial.  Eles conseguiram abalar minha estrutura. No passado eu não fazia segredo quanto ao meu desdenho pelo famoso lema do Chef Gusteau: “Qualquer um pode cozinh...

Ross, Lee; Anderson, Craig A. (1982), «Shortcomings in the attribution process: On the origins and maintenance of erroneous social assessments», in: Kahneman, Daniel; Slovic, Paul; Tversky, Amos, Judgment under uncertainty: Heuristics and biases, ISBN 978-0-521-28414-1, Cambridge University Press, pp. 129–152

Crenças podem sobreviver a poderosos desafios lógicos ou empíricos. Elas podem sobreviver e até mesmo serem reforçadas por uma evidência a qual observadores descomprometidos concordariam que demanda um enfraquecimento de tais crenças. Elas podem até mesmo sobreviver à destruição total de sua base de evidências. —Lee Ross e Craig Anderson

A ética das baratas Luiz Felipe Pondé

A ética das baratas - LUIZ FELIPE PONDÉ FOLHA DE SP - 16/09 A natureza mata sem pena pobres e oprimidos, ela é a maior opressora da face da Terra As pessoas têm crenças desde a pré-história. Nossa constituição frágil é uma das razões para tal. Hoje, cercados de luxo e levados a condição de mimados que somos, até esquecemos que há anos atrás mais da metade de nossas mulheres morriam de parto. Elas viviam por conta de ficarem grávidas e pronto. Hoje existe essa coisa de "escolha", profissão, filhos depois da pós, direitos iguais, ar-condicionado, reposição hormonal, bolsa Prada. Esquecemos que direitos e escolhas são produtos mais caros do que bolsa Prada. Pensamos que brotam em árvores. Mas existem crenças mais frágeis do que outras, algumas que beiram o ridículo. E algumas delas até recebem bênçãos de filósofos chiques. Em 1975, o filósofo utilitarista australiano Peter Singer publicou um livro chamado "Animal Liberation", que deixou o mundo de boca aberta. P...