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Equilíbrio - O monge e o executivo

— Não sei, Simeão. Eu fiquei muito irritado com Greg, e foi difícil me concentrar. Parece que ele desafia tudo. Acho que deve ser por causa de seu treinamento no Exército. Por que você não dá um basta, ou pede para ele sair, em vez de deixá-lo interromper tanto? — Eu rezo para que pessoas como Greg assistam às minhas aulas. — Você realmente quer sujeitos como esse em sua aula? - perguntei incrédulo. — Pode apostar que sim. Meu primeiro mentor em negócios me ensinou uma lição difícil sobre a importância da opinião contrária. Quando jovem, fui vicepresidente de uma companhia fabricante de lâminas de metal, e defendia a todo custo a teoria de que liderar era dar a mão aos outros e cantar em coro. Outros dois vice-presidentes de que recordo vivamente até o dia de hoje, Jay e Kenny, pensavam exatamente o oposto. Eles achavam que as pessoas eram preguiçosas, desonestas, e precisavam ser cumeadas para fazê-las trabalhar. — Assim como Greg? — Ainda não tenho idéia daquilo em que Greg acredita, ]ohn, mas sei que as coisas nem sempre são como parecem ser. Devemos ter cuidado antes de fazer julgamentos rápidos. Além disso, Greg não está aqui conosco para se defender, e eu tento não falar negativamente a respeito daqueles que não estão presentes. — Acho que esta é uma boa política - concordei com ele. — Tentei viver, muitas vezes sem sucesso, adotando a filosofia de que nunca devemos tratar as pessoas da maneira que não gostaríamos de ser tratados. Acho que não gostaríamos que as pessoas falassem de nós pelas costas, não é mesmo, John? — Sem dúvida, Simeão. — Voltando a Jay e Kenny, em nossas reuniões eu entrava em tremendos conflitos com eles sempre que as questões dos empregados eram discutidas. Esses dois sujeitos exigiam sempre políticas e procedimentos mais duros, e eu sempre optava por um estilo de administração mais democrático e aberto. Eu acreditava que Jay e Kenny arruinariam a companhia com o que eu considerava atitudes da idade da pedra. Eles, por sua vez, acreditavam que havia um comunista secreto querendo entregar a companhia. Meu chefe, Bill - presidente da companhia e amigo pessoal -, pacientemente arbitrava essas batalhas, algumas ferozes, às vezes ficando do lado deles, às vezes do meu. — Duro o lugar dele — comentei. — Não para Bill - respondeu Simeão prontamente. - Bill sempre estabelecia limites claros, principalmente quando se tratava dos interesses da empresa. Depois de uma acalorada reunião, um dia puxei Bill de lado e disse: "Por que você simplesmente não despede aqueles dois idiotas para que possamos começar a ter algumas reuniões respeitosas e produtivas?" Lembrarei sua resposta até o dia de minha morte. —Ele concordou em despedi-los? —Ao contrário, John. Ele me disse que despedi-los seria a pior coisa que poderia fazer à companhia. Quando eu perguntei por que, ele me olhou nos olhos e disse: "Porque, Len, se nós adotássemos só o seu jeito de liderar, entregaríamos a companhia. Esses sujeitos ajudam você a manter o equilíbrio. "Fiquei tão zangado que não consegui falar com ele durante uma semana. — Colocando isso na linguagem que você usou ontem, Simeão, acho que Bill deu o que você precisava, e não o que você queria, certo? Simeão balançou a cabeça. - Uma vez aplacado meu ressentimento, compreendi que Bill estava certo. Embora Jay, Kenny e eu brigássemos muito, nossas decisões finais eram geralmente muito equilibradas. Eu precisava deles e eles precisavam de mim. — Meu chefe sempre me adverte e aos outros gerentes da fábrica para que não nos rodeemos de pessoas que dizem amém a tudo, ou pessoas iguais a nós. Ele gosta de dizer "Em nossas reuniões de executivos, se dez concordarem com tudo, nove provavelmente são desnecessários". Acho que preciso ouvi-lo um pouco mais.

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